top of page

CRÓNICA

Começo pelo fim. Começo por aí porque não há melhor perspectiva que uma retrospectiva. 

“My neighbor is alone.  Why can’t I be alone? Just like that.”
José Valente tem a enorme capacidade artística de surpreender. Invasão surpreende o ouvido de quem acompanha, quase desde o início, o seu trabalho. De todas as suas composições, considero Invasão como uma das mais orgânicas que o José compôs.
30 minutos de sensações e imagens: um corpo a crescer a conquistar-se, ossos, veias, órgãos, carne, pêlos, olhos, nariz, ouvidos, músculos e uma boca. Uma boca para gritar. Músculos para guerrear, bater, matar e morrer só, como todo o conquistador que se esqueceu do principal: conquistar-se.
30 minutos a desbastar caminho: certos que quem nos guia não sabe o destino, mas sabe apresentar-nos uma imensa paisagem sonora que vai dos Estados Unidos até ao Minho. Tudo para nos dizer que o Mundo é pequeno e que está tudo ligado. O Texas é no Minho e vice-versa. José Valente não esquece as suas origens e tem a portugalidade nos dedos que primem as cordas.
30 minutos a ser tudo e todos ao mesmo tempo, até mesmo Jean Michel Jarre, com o histórico tema, Fourth Rendez-vous, está lá.
30 minutos de esquizofrenia de sons, uma babel sonora que se constrói a ritmos e velocidades diferentes, e que vemos crescer, umas vezes possante outras leve como uma valsinha, diante de nós. E depois ouvimos o fino respirar dos operários cansados naquele incessante e prolongado som.
No final, tudo não passou de uma falsa construção. Não há invasão nem invasores. Apenas a eterna vontade de ser o vizinho do lado, aquele que não é como nós, aquele que é mais que nós, aquele que é o Outro.
Invasão termina com um olhar sobre o Outro. Esse que é o nosso maior inimigo. Ainda que nós também sejamos o Outro do Outro. É a infinita invasão humana.


Hélder Wasterlain

Dramaturgo

Bruxelas, 11 de Janeiro de 2013

OPINIÃO

Sobre “Invasão”, de José Valente

Na actividade artística do violetista e compositor José Valente a vida e as suas pequenas e grandes desgraças não ficam de fora. Este impulso de criar sem se afastar de questões essenciais das sociedade humana é uma característica que ressalta, logo à primeira vista, na obra “Invasão”.
O que é digno de registo, do meu ponto de vista, é o facto de José Valente nos conseguir entregar uma obra de fôlego, capaz de ser apreciada pelos seus méritos próprios mas, também, o facto de colocar a experiência da criação artística à discussão. Ora, esta capacidade não se afigura muito comum nos dias que correm e essa é a principal razão pela qual “Invasão”, na sua dupla dimensão de concerto e conferência resulta num espectáculo singular e capaz de nos interpelar a cada momento.



José Miguel Pereira

Produtor Executivo do Jazz ao Centro Clube e director artístico do Ciclo de Estudo de Jazz e Música Improvisada

"It is very beautiful and powerful: power and poetry. Congratulations on this expansive canvas. I hope it has many performances, which it deserves."

Howard Hersh

Compositor

www.howardhersh.net

COMPOSIÇÃO DE JOSÉ VALENTE.

bottom of page